domingo, 27 de novembro de 2011

O Tempo [Teoria da Relatividade] *



“Mas tu estavas de olhos fechados, prendendo o tempo em teu sorriso.”
Inverno – Cecília Meireles in Viagem

Ouvi dizer que o Tempo é um senhor idoso, de barbas brancas e um vestido longo. Pra mim ele parece mais um menino traquina que gosta de pregar peças na gente! Ora apressado, sempre correndo, ora preguiçoso, fazendo manha, se arrastando pelos cantos. Parece que basta ele ver a gente feliz pra se animar e logo ele começa a correr.

Em menos de um dia vi duas pessoas se referirem ao tempo com analogias parecidas... O Tempo puxando o fio da vida... despindo a gente até a gente se dar conta de que está totalmente nu, exposto a ele. Ou sendo a vida um fio desenrolado da vestes do tempo...

No meio de tantas incertezas, nada mais certo que a relatividade do tempo. Coisa simples de entender e provar, dispensando as complicadas equações cheias de ∆t do Einstein. Quer ver?!

Todo mundo já teve essa sensação algumas vezes na vida. Lembra? No final daquela aula chata... quando os 5 minutos que faltavam pra tocar o sinal pareciam intermináveis e eternos? O relógio se arrastando... tictaqueando devagar quase parando... Agora lembra como esses mesmo tais pareciam voar quando você era criança e pedia a mamãe pra brincar só mais cinco minutinhos? Inacreditável! Não podia ser... Alguém rodou o relógio mais rápido?!

Assim, relativos, são os 30 longos segundos de espera do lado de fora da porta do banheiro... ou as horas que voam numa conversa agradável. Existem também aqueles momentos em que parece que o tempo pára, congela, ou que tudo fica em câmera lenta... Segundos eternos de um beijo... Ou quando num flash a vida inteira passa diante dos nossos olhos...

Às vezes acho que cada um tem um Tempo próprio, que nos acompanha, acompanha junto conosco toda a nossa vida e que cresce, envelhece e amadurece junto com a gente. Vai ficando mais maduro e mais sensato. Aprendendo a ser paciente. E a gente vai ganhando intimidade com ele e aprendendo a usá-lo a nosso favor. Infelizmente alguns só se dão conta dessa amizade que podem fazer com o tempo quando já é tarde demais, quando ele já passou, quando já envelheceu.

Mas não acho que o tempo é essa coisa mágica que as pessoas falam por aí não, que faz a gente esquecer amores, superar todos os problemas... Para essas coisas acontecerem não basta sentar e esperar o tempo passar e resolver tudo sozinho. O Tempo só nos dá tempo para podermos trabalhar em nós mesmos, nossos sentimentos. Não é mágica, é esforço consciente!

O Tempo em si não tem me bastado. Não tem me feito esquecer. Só tem aumentado a saudade e me feito sentir mais falta. Só tem me feito desejar mais. Tem feito eu me sentir impotente e perdida enquanto ele dá voltas no relógio. Sinto-me numa espera que não tem data marcada pra acabar. Sem saber nem o que esperar.

Tempo teimoso! Voltar quando a gente quer que ele volte, ele não volta. Ah! Tempo traquina! Um dia a gente se entende...


"Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra." Mário Lago

A gente se deu tão bem
Que o tempo sentiu inveja
Ele ficou zangado e decidiu
Que era melhor ser mais veloz e passar rápido pra mim
Espero o dia que vem
Pra ver se te vejo
E faço o tempo esperar como esperei
A eternidade se passar nos dois segundos sem você
Me perdi lembrando o teu olhar
O meu futuro é esperar pelo presente de fazer
O tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis
Distante é devagar
Perto passa bem depressa assim
Se o tempo se abrir talvez
Entenda a razão de ser
De não querer sentar pra discutir
De fazer birra toda vez que peço tempo pra me ouvir
Eu que nunca discuti o amor
Não vejo como me render
Ah, será que o tempo tem tempo pra amar?
Ou só me quer tão só?
E então se tudo passa em branco eu vou pesar
A cor da minha angústia e no olhar
Saber que o tempo vai ter que esperar
E o tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis
Se não for devagar
Que ao menos seja eterno assim
[Trechos de 'O Tempo' – Móveis Coloniais de Acaju]
Na trilha pode entrar também o Biquíni Cavadão com “Em algum lugar do tempo” e com “Quanto tempo demora um mês?”
______________________

* Texto originalmente postado em Meu Lugar, dia 10/01/10

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Dog Days Are Over



A felicidade a atingiu em cheio. Ela bem que tentou evitar. Andou trancando portas, fechando janelas, colocando cortinas, escondendo-se entre as cobertas. Mas a "tal dona" entrou sem pedir licença. Foi como um tiro certeiro, uma bala a queima roupa, da qual não houve como fugir. 

Invadiu sua vida. Tomou todos os espaços. Entrou nos armários, escondeu-se sob as camas, ocupou todos os cantos, mudou aquele lugar. Escancarou janelas. Pintou paredes. Deu uma festa dentro dela. Espalhou bolas de sabão pelo ar. Trouxe um arco-íris inteiro pros seus olhos. Sussurrou baixinho em seus ouvidos "Era um vez os dias de cão! Vá viver, menina! Você nasceu pra ser feliz, mas felicidade não espera! Corra, meu bem, corra!"

Ela chorou, mas dessa vez sorrindo. Sentiu que suas lágrimas agora eram doces. Enterrou os medos. Esqueceu as dores. Então correu. Correu como quem quer tomar o mundo. Gritou como se não fosse perder o fôlego. Respirou como quem enche os pulmões de vida. Cantou como se o mundo fosse platéia. Beijou como se fosse poesia. Abraçou como se fosse dança. Amou como se tudo fosse pra sempre. De  nada ia valer carregar tudo isso apenas dentro dela. 

Consegue ouvir?! 
As palmas no ritmo da batida anunciam que a vida voltou a pulsar por aqui. 


 Run fast for your mother, run fast for your father
Run for your children, for your sisters and brothers
Leave all your loving, your loving behind
You can't carry it with you if you want to survive
The dog days are over. The dog days are done.
Can you hear the horses? 'Cause here they come 

-------------------------
*O título do post e a inspiração vieram dessa música. 
Fala sério, as palmas são contagiantes, não são?