sexta-feira, 1 de outubro de 2010

E o Palhaço, o quê que é?

"Palhaço é um homem todo pintado de piadas" - Teatro Mágico

Nunca fui muito fã de palhaços. Eu fazia um verdadeiro escândalo quando criança, sempre que vinha algum circo pra cidade e meus pais me levavam pra ver os palhaços que iam pro meio da rua convidar o ‘respeitável público’ para o espetáculo. Hoje sinto vergonha ao lembrar da cena que eu fazia. Mas eu entrava em pânico! Palhaços, por algum motivo, me assustam. E eles serem escolhidos como personagens de filmes um tanto macabros e noites de horror no Hopi Hari é algo que faz todo sentido pra mim.

Descobri que existe até nome para esse medo de palhaços: coulrofobia. E engana-se quem pensa que isso é medinho de criança. Mais gente do que se imagina sofre desse mal. Eu sou uma dessas pessoas. Até hoje eu tenho medo de um quadro com um palhaço pintado que fica bem na sala de estar da casa do meu avô. Os olhos do Palhaço do quadro são tão reais que parecem olhar pra mim. Não importa pra que direção eu vá, ele parece vigiar os meus passos. Não gosto de ficar olhando pro quadro e nunca fico sozinha na sala em que ele está. Eu nunca decoraria um quarto com palhaços.

Ao mesmo tempo eu tenho um fascínio, uma admiração por essa figura. É engraçado dizer isso, mas, Palhaços me fazem sentir um sentimento esquisito, me trazem um quê de melancolia... Sempre que eu vejo um palhaço sinto uma vontade estranha de chorar. E eu não sabia explicar muito bem o porquê disso.

Um dia, conversando com a minha mãe exatamente sobre essa minha cisma com palhaços, relembrando histórias do tempo de criança, fiz esse comentário sobre palhaços me fazerem sentir-me melancólica. Ela se surpreendeu e me disse que sentia exatamente isso, mas achava que era a única que se sentia assim e que ninguém entendia quando ela dizia isso. Eu entendi.

Eu sempre tive um senso de humor estranho e nunca foi fácil me fazer rir com trapalhadas bobas. Mas os palhaços que acho mais engraçados são sempre aqueles que vêm dos circos mais simples, aqueles de ‘lona furada’, que quase não tem recursos a não ser o próprio dom de fazer rir. Esses são os que me parecem mais verdadeiros e por isso mesmo os que mais me emocionam. Na maioria das vezes tem uma história sofrida. Sabem o valor de sorrir porque conhecem muito bem as lágrmas.  Pintam um sorriso para esconder as dores e semeiam gargalhadas. É como se tirassem a própria alegria do riso que provocam, sem pedir nada mais em troca. Acho isso tão nobre, tão honrado.

Admiro quem faz algo por paixão pelo que faz, por prazer, pelo bem que isso traz ao outro. Admiro quem  aceita 'fazer papel de palhaço', quem doa de si, de seu tempo, quem tem coragem de sair de rosto pintado pra encher de esperança e alegria quem tanto precisa sorrir.  Admiro o trabalho desses que, pra mim, são os verdadeiros  'Doutores da Alegria', esses tantos anônimos que prontamente são reconhecidos, mesmo usando máscaras: palhaços.

É... eu acho que até gosto de palhaços.
__________
Alguém ai ainda achava que o nome do blog era por acaso?


"O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Um sorriso por ingresso
Falta assunto, falta acesso
Talento traduzido em cédula
E a cédula tronco é a cédula mãe solteira"
O Teatro Mágico -- Pena

(Minha trupe preferida *.*)
--- Música rara em liquidação!

2 comentários:

  1. Gostei do seu blog vou passar aqui mais vezes

    ResponderExcluir
  2. Eu tenho exatamente a mesma sensação com palhaços. Pra mim, são as pessoas mais tristes do mundo. E é uma generalização bizarra, mas é exatamente assim que eu sinto. Vai entender...

    ResponderExcluir

Solta o verbo!