domingo, 15 de maio de 2011

Sutura *


“Sem querer me machucar de novo por culpa do amor” *

Na medicina algumas coisas são aparentemente muito simples. Algo que não presta? Que não deve estar ali?! Com uma incisão precisa, corta-se, abre-se, retira-se o que não presta e fecha-se. Pontear é algo aparentemente muito simples e um dos primeiros aprendizados. Mas, suturar é uma arte! É o acabamento!

É o paciente quem vai voltar pra casa tendo que sentir as dores do procedimento e quem vai lidar com a cicatriz resultante, bela ou não. Às vezes com um dreno pra ajudar a restabelecer equilibro no que agora é um espaço vazio.

Seria ótimo que tudo fosse simples, fácil e indolor! Seria ótimo que todos os cirurgiões tivessem a maestria dos cirurgiões plásticos, que deixam marcas quase imperceptíveis. Mas, a vida não é sempre fácil. E, às vezes, pode doer muito! Não passamos por ela sem carregar algumas cicatrizes. Não há quem não as tenha!

Aquela marca de infância - o corte na lata de doce, o joelho marcado por tombos... Ou as mais sérias: os pontos daquele corte profundo quando você quebrou o vaso preferido da mamãe, a marca da cirurgia de hérnia ou de apêndice... o corte que ganhou no supercílio quando foi cabecear aquela bola na frente do gol!

Às vezes essas marcas somem. Às vezes a gente põe uma roupa que disfarça, faz uma bela maquiagem. Outras vezes ostenta como um verdadeiro troféu!

Mas... é possível ostentar um coração sofrido? Não há maquiagem que disfarce as cicatrizes deixadas por aqueles que passaram e arrancaram um pedaço da gente. Alguns, ao levarem, deixaram outro em troca no lugar, e é preciso aceitar as marcas dessa interação e um ou dois pontos para fixar. Porém poucos são os cirurgiões plásticos, apesar de bem intencionados.

Como lidar com o medo de abrir um coração tão machucado?! Depois de tantas partidas e despedidas? O medo de expor suas marcas e seus troféus.

Cicatrizes ficam bem desde que não sejam remexidas. E levam tempo pra conseguirem ser tocadas. Precisam ser devidamente drenadas e o vazio remodelado.

Sentimentos não são coisas simples. Existem sentimentos que são como tumores, que insistem em crescer se espalham e se enraízam. Às vezes dolorosos de lidar e impossíveis de remover. Sempre voltam a crescer.

Mas é possível aprender a lidar com isso. Faz parte da vida e tudo é aprendizado. Proteja-se do que for possível, aprenda do que for inevitável!

Na hora, as feridas doem, mas depois de um tempo os pontos secam... E o que era uma sutura dolorida, cumpre o seu papel [o fio que (re)une um tecido vivo que foi rompido] e junta tudo, deixando apenas uma sensibilidade diferente, que você até se acostuma e esquece que tem, até alguém notar.

Na hora da crise, analgésicos.
Na hora da festa, maquiagem e salto alto!

Se quiser me amar ou me ter na sua vida, você precisará aceitar também minhas cicatrizes. Elas são parte de mim. Você não precisa amá-las, basta que elas não te assustem e você vai acabar se acostumando e simplesmente perceber que elas são responsáveis por algumas das minhas formas e justificam algumas das minhas atitudes e muito dos meus medos.

Talvez elas apenas te lembrem de ser mais cauteloso, pois, já sofri demais, mas não me neguei a amar. E que, por conhecer bem a dor, não quero te fazer sofrer. E que entre nós haja sutura e não o corte.

"Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu" *


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Texto originalmente postado em Meu Lugar em 30/07/09 

2 comentários:

  1. Oi moça desculpa não ter madando um recado ainda, mais ia mandar juro kkk. Conheci seu blog semana passa li todos os post e simplismente me apaixonei. Surrupiei os textos porque lindamente voce escreveu tudo que não venho conseguindo escrever ultimamante. Não escrevo mais como antes, acho que são os ultimos nós na guarganta, espero voltar a escrever como antes urgentimente. Mas achei seu modo de escrever muito lindo. Obrigada por fazer a visita e vou sempre passar por aqui Xero

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  2. Texto forte.

    Em pensar que eu tô cheia dessas cicatrizes. Daquelas beeeem doloridas. Cirurgia plástica now!

    Beijo, Bela.

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