Ela estremecia só de pensar em entrar naquele quarto. Da porta já era possível ouvir aquele riso macabro. Aquela gargalhada que vinha do armário a assombrava.
Vivia arranjando pretextos só para passar cada vez mais tempo fora. E a cada dia arrumava uma desculpa nova só para chegar ainda mais tarde em casa. Passava cada vez menos tempo no seu quarto – quarto esse que costumava ser seu refúgio, seu lugar.
Os sapatos se escondiam debaixo da cama. Ela abria cada vez menos o armário, até que as roupas que chegavam do varal foram se acumulando por todos os lados e já nem faziam questão de ser dobradas. Dividiam e disputavam espaço com os livros espalhados e todos os cadernos rabiscados – estes sempre a acompanhavam, por que então ter trabalho de guardá-los?
Seus sonhos eram tumultuados, recorrentes. Dormia cada vez mais tarde e tinha que acordar cada vez mais cedo. A bagunça cresceu de tal forma que ela já não sabia onde encontrar a sua paz. Percebeu que naquele esforço em fazer de tudo para não encontrar aquilo que a assombrava, ela já não se encontrava mais. Perdeu-se de si.
Viu que era hora de tomar uma atitude. Até quando ela continuaria a se esconder? Até quando iria evitar aquele encontro inevitável? Tomou coragem, escancarou o armário e com toda firmeza disse enquanto cavava por entre as roupas em que ele se escondia:
– I am not afraid of you! Not anymore! Essa sua gargalhada já não funciona mais. Eu já não sou mais aquela criança boba que você conseguia assustar. Acho que você está na hora de você começar a crescer também e criar coragem de vir até aqui fora pra gente conversar.
Começou a limpar as prateleiras, esvaziar as gavetas e jogar fora tudo que não prestava e que já não lhe cabia mais. Sobrou então bastante espaço pra organizar tudo que era importante e guardar cada coisa em seu lugar. Algumas coisas ela colocou lá no fundo, em prateleiras altas... mas outras elas fez questão deixar bem a vista, ao alcance das suas mãos.
Depois de um tempo, o quarto nem parecia o mesmo. Já não havia nem sinal de toda aquela bagunça. E no lugar daquela gargalhada medonha, do lado de fora era possível ouvir os risos daquela dupla conversando por horas a fio.
A minha teoria é muito simples: “o estado do meu guarda-roupa reflete diretamente a organização da minha mente”
– Quer saber? Você nem era tão assustador assim...
"How can you stay outside? There's a beautiful mess inside!"
Far Far - Yael Naim
_______ Far Far - Yael Naim
A minha teoria é muito simples: “o estado do meu guarda-roupa reflete diretamente a organização da minha mente”
HAHAHAHA
ResponderExcluirQue legal!
É sempre assim, depois de vemos as coisas de perto percebemos que elas não são tããão assustadoras assim. Tudo depende de um coração pronto, preparado, disposto.
=*