segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Distração

O meu problema é estar sempre atenta demais, prestando atenção a todos os detalhes, notando cada aproximação. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada para que algo realmente importante aconteça. Já dizia algum ditado que ‘leite vigiado não ferve’ e que ‘telefone vigiado não toca’. Para que a mágica tenha encanto, é preciso desconhecer os truques; só que eu tenho essa mania chata de tentar sempre desmascarar o mágico.

A surpresa é uma incógnita. O desconhecido assusta.
É preciso não esperar nem desesperar nada.



“No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio.
E fantasio, fantasio” Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Solidão a Dois

Caminhavam juntos, lado a lado, mas era como se estivessem sós. Nenhuma palavra era dita. Já não havia mais os risos nem as brincadeiras usuais. Apenas se ouvia aquele silêncio ensurdecedor, que só era interrompido pelo barulho dos seus próprios passos. Eles, que viviam abraçados, agora pareciam hesitar qualquer toque. Ele evitava os olhos dela. Ela já não sabia como reclamar atenção. Eles sequer brigavam. Ela não mais perguntou, desistiu de tentar entender e resolveu não mais desculpar as coisas de que ele não se arrependia. Ele não se incomodou em lutar por ela.

Onde foi exatamente que tudo mudou?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Meus Hábitos de Leitora

  • Todo mundo sabe que sou apaixonada por livros! Tenho por eles todo um apego sentimental. E livro pra mim tem que ser livro mesmo! Impresso no papel! Pra eu poder carregar comigo pra onde for, pra ler deitada na cama, no intervalo da aula, pra poder grifar as minhas partes favoritas. Não sei ler no computador! 
  • Eu amo ler deitada, ao contrário de todas as recomendações! E ler normalmente me tira o sono, ao contrário do que todo mundo diz. 
  • Morro de ciúmes dos meus livros! Não sou de emprestar pra qualquer um, não! E tomo todo cuidado com os que me emprestam, da mesma forma que gostaria que tomassem cuidados com os meus. Tenho vontade de esganar quem pega um livro meu e me devolve amassado ou cheio de orelhas... uhhg. 
  • Eu sou um perigo dentro de uma livraria. Entro querendo comprar 1, saio com 2 e descubro que quero pelo menos mais uns 4! Amo dar livros de presente! E adoro ganhar livros também. (Se quiser me dar algum de presente, é so escolher um daqui)
  • Eu tenho mais livros que lugar pra eles e fico em pânico quando alguém me diz que eu devia me desfazer deles. Meu sonho é um dia ter uma biblioteca só pra mim. 
  • Às vezes compro livros que eu já li, mas que não eram meus, só pelo prazer de tê-los e poder reler minhas partes favoritas quando eu quiser. Eu releio meus livros favoritos – alguns já perdi as contas de quantas vezes eu li. 
  • Na única prateleira do meu quarto, organizo os livros por tamanho e por autor. Eu tenho pensando cada dia mais nos planos de reforma tão adiados do quarto e a necessidade urgente de prateleiras resistentes! 
  • Acho tão estranho quando alguém não tem livros ou diz que não gosta de ler. 
  • Eu tenho uma amiga que, antes de começar a ler um livro, lê o final pra vê se vale a pena. Nunca entendi qual é a lógica disso, se o que faz a gente saber se o final valer a pena é conhecer a história. Acho que alguns livros valem mais pelo meio que pelo final. Como numa viagem onde o que conta é o caminho e não o destino. 
  • Tenho um outro amigo que sempre quer me contar o final dos livros (e dos filmes). Porque tem gente que não sabe fazer sinopse sem spoilers? 
  • 'Não gosto de leituras do tipo Harry Potter, Senhor dos Anéis, Crepúsculo, e historinhas de vampiros ou outros bichinhos do mal.' Não gosto de livros de ‘auto-ajuda’, embora não me deixe levar por rótulos. 
  • Eu gosto de livros bons (ainda que ‘ser bom’ seja um conceito altamente subjetivo). Eu não me prendo a um estilo ou uma escola literária. Aprecio a diversidade. Leio dos romances da literatura nacional às distopias políticas de Orwell ou Huxley. Acho que cada estilo tem sua beleza, tem um porquê de ser.
  • Eu leio livros infanto-juvenis e acho que às vezes eles são mais inteligentes e críticos que muito dos best-sellers modinha. 
  • Não sou de escolher um livro pela capa. Mas fico com vontade de ler alguns só pelo título, às vezes sem nem saber de que se trata. 
  • Diferente de 'Alice', sempre preferi livros sem figuras ou ilustrações. Sempre gostei de poder imaginar a história e os personagens do meu jeito, seguindo as descrições do autor. 
  • Amo conversar sobre livros! E sinto muita falta do meu companheiro oficial de leitura que passava horas no telefone comigo resenhando cada capítulo que a gente lia! Tenho preguiça de escrever resenhas, por que sempre tenho tanto pra falar... 
  • Ando com saudades de ler um bom livro. Tenho me permitido ser sugada pelas milhões de coisas da faculdade pra ler e tenho deixado o hábito de ler só por prazer meio de lado. Mas já estou dando um jeito nisso...
Recomendo Livros, de Caetano Veloso como trilha sonora perfeita!
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Eu acho que não sou tão boa em escrever resenhas, mas a Carol é! 
Eu amo as resenhas dela e ela vive me dando dicas de bons livros. #ficadica 
Detalhe.. a idéia desse post também veio dela e eu aceitei a sugestão.
 Ah.. O blog da Carol ta concorrendo pra virar livro. 
To louca pra ter o Expresso pra Dois aqui na minha estante. 
São os último dias pra votar. Me ajuda e vota nela clicando aqui!

domingo, 5 de setembro de 2010

O Monstro do Armário


Ela estremecia só de pensar em entrar naquele quarto. Da porta já era possível ouvir aquele riso macabro. Aquela gargalhada que vinha do armário a assombrava.

Vivia arranjando pretextos só para passar cada vez mais tempo fora. E a cada dia arrumava uma desculpa nova só para chegar ainda mais tarde em casa. Passava cada vez menos tempo no seu quarto – quarto esse que costumava ser seu refúgio, seu lugar.

Os sapatos se escondiam debaixo da cama. Ela abria cada vez menos o armário, até que as roupas que chegavam do varal foram se acumulando por todos os lados e já nem faziam questão de ser dobradas. Dividiam e disputavam espaço com os livros espalhados e todos os cadernos rabiscados – estes sempre a acompanhavam, por que então ter trabalho de guardá-los?

Seus sonhos eram tumultuados, recorrentes. Dormia cada vez mais tarde e tinha que acordar cada vez mais cedo. A bagunça cresceu de tal forma que ela já não sabia onde encontrar a sua paz. Percebeu que naquele esforço em fazer de tudo para não encontrar aquilo que a assombrava, ela já não se encontrava mais. Perdeu-se de si.

Viu que era hora de tomar uma atitude. Até quando ela continuaria a se esconder? Até quando iria evitar aquele encontro inevitável? Tomou coragem, escancarou o armário e com toda firmeza disse enquanto cavava por entre as roupas em que ele se escondia:

– I am not afraid of you! Not anymore! Essa sua gargalhada já não funciona mais. Eu já não sou mais aquela criança boba que você conseguia assustar. Acho que você está na hora de você começar a crescer também e criar coragem de vir até aqui fora pra gente conversar.
Começou a limpar as prateleiras, esvaziar as gavetas e jogar fora tudo que não prestava e que já não lhe cabia mais. Sobrou então bastante espaço pra organizar tudo que era importante e guardar cada coisa em seu lugar. Algumas coisas ela colocou lá no fundo, em prateleiras altas... mas outras elas fez questão deixar bem a vista, ao alcance das suas mãos.

Depois de um tempo, o quarto nem parecia o mesmo. Já não havia nem sinal de toda aquela bagunça. E no lugar daquela gargalhada medonha, do lado de fora era possível ouvir os risos daquela dupla conversando por horas a fio.

– Quer saber? Você nem era tão assustador assim...

"How can you stay outside? There's a beautiful mess inside!"
Far Far - Yael Naim
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A minha teoria é muito simples: “o estado do meu guarda-roupa reflete diretamente a organização da minha mente”

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A Morte da Inocência *


Foi devagarzinho que começaram a matar a Inocência...

Pequenas doses de insinuações maldosas e começaram a querer semear dúvidas quanto à sua reputação. Mas ela, inocentemente, achou que devia ser só mal-entendido e não má-intenção. Continuou a sorrir e a brincar.

Começaram, então a julgar suas brincadeiras, a distorcer seus sentimentos. Ela bondosamente tentou explicar e desfazer os ‘enganos’. Só que eles não desistiram e ela chegou a pensar: “meu deus, será mesmo que sou assim?” Mas ela continuou a ser quem ela era e , ainda que com tristeza, a sorrir.

Cansados de sua perseverança, desistiram dos métodos sutis e usaram o maior golpe que podiam: atacaram seus melhores amigos para ver se assim a atingiriam – a Amizade, o Amor e a Confiança. Ela não agüentou tal ferimento tão mortal.

Não suportava ver os que tanto amava sofrendo por sua causa. Logo ela, sofria por ser inocente. Não, era demais pra ela! Jurou a si mesma que não mais permitiria que isso acontecesse. Protegeria quem amava. Não deixaria que ninguém mais pudesse magoá-los!

Passou a se antecipar aos seus inimigos, a enxergar qualquer possível maldade que pudessem atribuir aos seus atos antes mesmo de praticá-los. Deixava de agir dessa ou daquela forma se achasse que isso levaria a atacarem seus amigos. Até se afastou deles quando necessário só para protegê-los.

Assim, foi perdendo as forças... ficando fraca... caindo pelos cantos. Poucos sentiram a sua falta. Não se deram ao trabalho de procurá-la, nem para fazer uma breve visita. Só seus amigos notaram, mas não entenderam de imediato o que acontecia para lutar por ela como ela por eles.

O Amor entristeceu com seu sumiço, a Amizade se perguntava porque ela estava tão distante, mas a Confiança acreditou que devia haver um motivo pra sua ausência e convenceu todos a irem em busca da Inocência. Mas, quando começaram a procurá-la, era tarde demais. Já a encontraram sem vida, prostrada, sem o viço que lhe era tão característico, irreconhecível.

Já faz algum tempo que ela se foi... Aqueles que a feriram de golpe tão mortal, até hoje negam a sua existência e dizem que ela não passa de uma lenda. Mas aqueles que realmente a conheceram e amaram continuam a semear a existência da sua grande amiga, agora, falecida: Inocência.

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

Soneto XVII - Mário Quintana
in A Rua dos Cataventos
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* Texto originalmente postado em Meu Lugar dia 13/12/09