quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Irracionalidade Inexplicável

O planeta seguinte era habitado por um bêbado. Esta visita foi muito curta, mas mergulhou o principezinho numa profunda melancolia.


- Que fazes aí? perguntou ao bêbado, silenciosamente instalado diante de uma coleção de garrafas vazias e uma coleção de garrafas cheias.
- Eu bebo, respondeu o bêbado, com ar lúgubre.
- Por que é que bebes? perguntou-lhe o principezinho.
- Para esquecer, respondeu o beberrão.
- Esquecer o quê? indagou o principezinho, que já começava a sentir pena.
- Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a cabeça.
- Vergonha de quê? investigou o principezinho, que desejava socorrê-lo.
- Vergonha de beber! concluiu o beberrão, encerrando-se definitivamente no seu silêncio.


E o principezinho foi-se embora, perplexo. 

As pessoas grandes são decididamente muito bizarras, dizia de si para si, durante a viagem.


[ cap. XII de O Pequeno Principe, de Antoine de Saint-Exupéry]


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Eu lamento tanto por quem nunca leu o meu Petit e o julga "livro para crianças". Ledo engano.

domingo, 27 de novembro de 2011

O Tempo [Teoria da Relatividade] *



“Mas tu estavas de olhos fechados, prendendo o tempo em teu sorriso.”
Inverno – Cecília Meireles in Viagem

Ouvi dizer que o Tempo é um senhor idoso, de barbas brancas e um vestido longo. Pra mim ele parece mais um menino traquina que gosta de pregar peças na gente! Ora apressado, sempre correndo, ora preguiçoso, fazendo manha, se arrastando pelos cantos. Parece que basta ele ver a gente feliz pra se animar e logo ele começa a correr.

Em menos de um dia vi duas pessoas se referirem ao tempo com analogias parecidas... O Tempo puxando o fio da vida... despindo a gente até a gente se dar conta de que está totalmente nu, exposto a ele. Ou sendo a vida um fio desenrolado da vestes do tempo...

No meio de tantas incertezas, nada mais certo que a relatividade do tempo. Coisa simples de entender e provar, dispensando as complicadas equações cheias de ∆t do Einstein. Quer ver?!

Todo mundo já teve essa sensação algumas vezes na vida. Lembra? No final daquela aula chata... quando os 5 minutos que faltavam pra tocar o sinal pareciam intermináveis e eternos? O relógio se arrastando... tictaqueando devagar quase parando... Agora lembra como esses mesmo tais pareciam voar quando você era criança e pedia a mamãe pra brincar só mais cinco minutinhos? Inacreditável! Não podia ser... Alguém rodou o relógio mais rápido?!

Assim, relativos, são os 30 longos segundos de espera do lado de fora da porta do banheiro... ou as horas que voam numa conversa agradável. Existem também aqueles momentos em que parece que o tempo pára, congela, ou que tudo fica em câmera lenta... Segundos eternos de um beijo... Ou quando num flash a vida inteira passa diante dos nossos olhos...

Às vezes acho que cada um tem um Tempo próprio, que nos acompanha, acompanha junto conosco toda a nossa vida e que cresce, envelhece e amadurece junto com a gente. Vai ficando mais maduro e mais sensato. Aprendendo a ser paciente. E a gente vai ganhando intimidade com ele e aprendendo a usá-lo a nosso favor. Infelizmente alguns só se dão conta dessa amizade que podem fazer com o tempo quando já é tarde demais, quando ele já passou, quando já envelheceu.

Mas não acho que o tempo é essa coisa mágica que as pessoas falam por aí não, que faz a gente esquecer amores, superar todos os problemas... Para essas coisas acontecerem não basta sentar e esperar o tempo passar e resolver tudo sozinho. O Tempo só nos dá tempo para podermos trabalhar em nós mesmos, nossos sentimentos. Não é mágica, é esforço consciente!

O Tempo em si não tem me bastado. Não tem me feito esquecer. Só tem aumentado a saudade e me feito sentir mais falta. Só tem me feito desejar mais. Tem feito eu me sentir impotente e perdida enquanto ele dá voltas no relógio. Sinto-me numa espera que não tem data marcada pra acabar. Sem saber nem o que esperar.

Tempo teimoso! Voltar quando a gente quer que ele volte, ele não volta. Ah! Tempo traquina! Um dia a gente se entende...


"Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra." Mário Lago

A gente se deu tão bem
Que o tempo sentiu inveja
Ele ficou zangado e decidiu
Que era melhor ser mais veloz e passar rápido pra mim
Espero o dia que vem
Pra ver se te vejo
E faço o tempo esperar como esperei
A eternidade se passar nos dois segundos sem você
Me perdi lembrando o teu olhar
O meu futuro é esperar pelo presente de fazer
O tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis
Distante é devagar
Perto passa bem depressa assim
Se o tempo se abrir talvez
Entenda a razão de ser
De não querer sentar pra discutir
De fazer birra toda vez que peço tempo pra me ouvir
Eu que nunca discuti o amor
Não vejo como me render
Ah, será que o tempo tem tempo pra amar?
Ou só me quer tão só?
E então se tudo passa em branco eu vou pesar
A cor da minha angústia e no olhar
Saber que o tempo vai ter que esperar
E o tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis
Se não for devagar
Que ao menos seja eterno assim
[Trechos de 'O Tempo' – Móveis Coloniais de Acaju]
Na trilha pode entrar também o Biquíni Cavadão com “Em algum lugar do tempo” e com “Quanto tempo demora um mês?”
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* Texto originalmente postado em Meu Lugar, dia 10/01/10

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Dog Days Are Over



A felicidade a atingiu em cheio. Ela bem que tentou evitar. Andou trancando portas, fechando janelas, colocando cortinas, escondendo-se entre as cobertas. Mas a "tal dona" entrou sem pedir licença. Foi como um tiro certeiro, uma bala a queima roupa, da qual não houve como fugir. 

Invadiu sua vida. Tomou todos os espaços. Entrou nos armários, escondeu-se sob as camas, ocupou todos os cantos, mudou aquele lugar. Escancarou janelas. Pintou paredes. Deu uma festa dentro dela. Espalhou bolas de sabão pelo ar. Trouxe um arco-íris inteiro pros seus olhos. Sussurrou baixinho em seus ouvidos "Era um vez os dias de cão! Vá viver, menina! Você nasceu pra ser feliz, mas felicidade não espera! Corra, meu bem, corra!"

Ela chorou, mas dessa vez sorrindo. Sentiu que suas lágrimas agora eram doces. Enterrou os medos. Esqueceu as dores. Então correu. Correu como quem quer tomar o mundo. Gritou como se não fosse perder o fôlego. Respirou como quem enche os pulmões de vida. Cantou como se o mundo fosse platéia. Beijou como se fosse poesia. Abraçou como se fosse dança. Amou como se tudo fosse pra sempre. De  nada ia valer carregar tudo isso apenas dentro dela. 

Consegue ouvir?! 
As palmas no ritmo da batida anunciam que a vida voltou a pulsar por aqui. 


 Run fast for your mother, run fast for your father
Run for your children, for your sisters and brothers
Leave all your loving, your loving behind
You can't carry it with you if you want to survive
The dog days are over. The dog days are done.
Can you hear the horses? 'Cause here they come 

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*O título do post e a inspiração vieram dessa música. 
Fala sério, as palmas são contagiantes, não são? 

sábado, 17 de setembro de 2011

Inverno


Dizem que o inverno já acabou, mas tudo ainda continua frio. Os termômetros ainda se mantém negativos e eu me pergunto: Onde foi parar todo aquele calor que fazia arder paixões de apenas algumas estações atrás? Tudo parece apenas uma lembrança distante, de dias que insistem em não se repetir mais. A paisagem mudou. As cores deram lugar a um cenário cinza e à solidão. Ficou apenas a saudade de dias inesquecíveis. Ficou apenas silêncio. Até quando vai durar esse gelo que causa esse arrepio na espinha e chega a doer os ossos? Até quando eu vou continuar a chover sem teu abraço pra me aquecer? Estremeço diante da previsão do tempo, mas ainda aguardo os dias de sol. O verão se foi, mas ainda me pego desejando que ele volte. E quando ele voltar, que seja pra ficar. Que não vá simplesmente embora.

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trilha perfeita pra acompanhar: a-ha - summer moved on

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

What About Me...


Gosto de água fria e corações quentes. Distribuo sorrisos. Às vezes consigo ler mentes... Gosto de olhar a Lua. Amo ver pôr-do-sol. Acho perfeito caminhar na praia, mãos dadas... sem sol. Amo livros. Vivo de música. Preciso de amigos! Amo muito! Penso demais! Falo sozinha. Escrevo poemas. Sou péssima contando piadas. Não gosto de gritos. Odeio falsidade. Gosto da noite. Amo cachoeiras. Gosto das coisas organizadas. Sempre me encontro na minha bagunça.

Sou irmã, amiga, filha e tenho síndrome de mãe. Ainda vou ser mãe! Eu vivo rindo. Eu vivo chorando. Detesto fanatismo. Não suporto conformismo. Penso antes de falar. Tenho muitos sentimentos. Abraço forte. Sinto saudades. Não gosto de me arrepender do que fiz [menos ainda do que não fiz]. Ando rápido. Não gosto de atraso. Amo olhar a chuva, ouvir a chuva, tomar banho de chuva. Gosto do cheiro da terra molhada. Sou melancólica! Sensível. Sou forte. Sou frágil. Sou criança. Sou mulher. Vivo intensamente. Faço acontecer.

Choro com desenhos animados. Normalmente não gosto de comédias. Nem sempre torço pelo “final feliz” nos romances. Assisto dramas pra pensar. Suspense só com quem abraçar. Gosto da vida real. Não espero “príncipe encantado”. Tenho defeitos. Cultivo qualidades. Divirto-me intensamente com uma conversa numa roda de amigos. Viajo nos papos-cabeça. Amo falar besteira. Sei calar. Gosto de escutar. Dou carinho. Sou carente! Canto quando ninguém vê...

Gosto das cores. Me dou bem com os números. Sou básica [mas amo scarpins]. Amo cachorros. Desconfio de gatos. Tenho nojo de insetos. Sou fã das borboletas. Uso repelente para insensibilidade. Tenho alergia à falsidade. Me sinto atraída à sinceridade. Gosto de ser conquistada. Me apaixono de verdade. Digo o que penso [mas nem sempre tudo]. Sou beijoqueira. Amo namorar. Valorizo meus amigos. Olho nos olhos. Odeio superficialidade. Mesmo nas brigas, educação! Gosto de cozinhar. Amo comer. Sou doce. Tenho lágrimas salgadas. Gosto de pratos quadrados. Amo frutas. Gosto de saladas. Amo foto. Amo rotina. Escrevo no meu diário. Tenho um coração. Tenho ciúmes. Odeio inveja. Dizem por ai que eu sou doida. Tenho certeza de que não sou normal. Seja como for, sou apenas EU.

Não venho com manual de instruções... mas é possível ler nas minhas entrelinhas.

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Poderá gostar também de: Coisas que você (não) precisa saber...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Encontros (Projeções) *



Ele não queria sair de casa. Estava desanimado, triste, digamos que um tanto mal-humorado. Mas seus amigos o convenceram de tanto que insistiram.
- “Vamo cara! Vai ser legal! Vai ter um monte de gente diferente lá!”

Mas era exatamente por isso que ele não queria ir. Ele não tava a fim de encontrar ninguém. De ver ninguém. De conhecer ninguém. Queria apenas ficar na dele, quieto. Mas, lavou o rosto, trocou de roupa e vestiu o sorriso mais espontâneo que conseguiu encontrar. Lá foi ele.

Chegaram. Era a casa de um dos dele. Mas além dos rostos conhecidos espalhados, haviam muitas caras novas misturadas nos grupos que conversavam. Música tocava animando o ambiente.

Numa pequena roda que se formara próxima ao sofá foi que ele a viu. Ela estava linda, embora ele não seja capaz de lembrar nem por todo esforço qual a roupa que ela usava. Seu olhar havia ficado preso naquele rosto. Ela gesticulava como que desenhando no ar, parecendo reger a harmonia do ambiente... espalhando o colorido do liquido que estava contido no copo que segurava delicadamente com uma das mãos.

Ela ria tão bonito enquanto conversava. Parecia tão leve. Irradiava algo diferente. Parecia que flutuava quando se balançou acompanhando despretensiosamente o ritmo da música. Era como se tivesse o poder de se mover em câmera lenta... e de repente pareceu não haver mais ninguém naquela sala, apenas Ela: aquela menina, aquela mulher, aquela aparição diante de seus olhos.

Ele não teve ação. Ficou parado no meio da sala com um sorriso nos lábios. Pareceu perder os sentidos naquele instante. Apenas pareceu, ele era pura sinestesia.

Foi ‘acordado’ daquele transe por um dos amigos que o cumprimentando com um aceno o convidou a se juntar àquele grupo. Ela estendeu-lhe a mão e o rosto para os cordiais dois beijinhos oferecendo-lhe um belo sorriso. Assim ele foi apresentado a Ela.

De repente ele se sentiu feliz por ter saído de casa.
Por algum motivo o mundo ficou diferente.


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* Texto originalmente postado em Meu Lugar dia 21/12/09

domingo, 12 de junho de 2011

Namore uma garota que lê



Namore uma garota que gasta seu dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela também tem problemas com o espaço do armário, mas é só porque tem livros demais. Namore uma garota que tem uma lista de livros que quer ler e que possui seu cartão de biblioteca desde os doze anos.

Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.

Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criado pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro. Compre para ela outra xícara de café.

[...]

É fácil namorar uma garota que lê. Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton, Pound, Cummings. Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade mas, juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa.

[...]

Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.

Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.

Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu [Cat in the Hat] e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.

Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê.

Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve.

- Texto de Rosemary Urquico
(Tradução e Adaptação de Gabriela Ventura)

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Eu até já tinha um texto pra postar hoje, mas, mudei de idéia quando eu li esse texto. Como eu achei muuuito perfeito, lógico que eu me apropriei dele. Obrigadinha a Carol, que fez com que esse texto lindo chegasse até mim. E obrigada também as amigas da Carol que fizeram o texto chegar até ela ;)
ps: eu avisei que eu ia roubar, né?!

domingo, 15 de maio de 2011

Sutura *


“Sem querer me machucar de novo por culpa do amor” *

Na medicina algumas coisas são aparentemente muito simples. Algo que não presta? Que não deve estar ali?! Com uma incisão precisa, corta-se, abre-se, retira-se o que não presta e fecha-se. Pontear é algo aparentemente muito simples e um dos primeiros aprendizados. Mas, suturar é uma arte! É o acabamento!

É o paciente quem vai voltar pra casa tendo que sentir as dores do procedimento e quem vai lidar com a cicatriz resultante, bela ou não. Às vezes com um dreno pra ajudar a restabelecer equilibro no que agora é um espaço vazio.

Seria ótimo que tudo fosse simples, fácil e indolor! Seria ótimo que todos os cirurgiões tivessem a maestria dos cirurgiões plásticos, que deixam marcas quase imperceptíveis. Mas, a vida não é sempre fácil. E, às vezes, pode doer muito! Não passamos por ela sem carregar algumas cicatrizes. Não há quem não as tenha!

Aquela marca de infância - o corte na lata de doce, o joelho marcado por tombos... Ou as mais sérias: os pontos daquele corte profundo quando você quebrou o vaso preferido da mamãe, a marca da cirurgia de hérnia ou de apêndice... o corte que ganhou no supercílio quando foi cabecear aquela bola na frente do gol!

Às vezes essas marcas somem. Às vezes a gente põe uma roupa que disfarça, faz uma bela maquiagem. Outras vezes ostenta como um verdadeiro troféu!

Mas... é possível ostentar um coração sofrido? Não há maquiagem que disfarce as cicatrizes deixadas por aqueles que passaram e arrancaram um pedaço da gente. Alguns, ao levarem, deixaram outro em troca no lugar, e é preciso aceitar as marcas dessa interação e um ou dois pontos para fixar. Porém poucos são os cirurgiões plásticos, apesar de bem intencionados.

Como lidar com o medo de abrir um coração tão machucado?! Depois de tantas partidas e despedidas? O medo de expor suas marcas e seus troféus.

Cicatrizes ficam bem desde que não sejam remexidas. E levam tempo pra conseguirem ser tocadas. Precisam ser devidamente drenadas e o vazio remodelado.

Sentimentos não são coisas simples. Existem sentimentos que são como tumores, que insistem em crescer se espalham e se enraízam. Às vezes dolorosos de lidar e impossíveis de remover. Sempre voltam a crescer.

Mas é possível aprender a lidar com isso. Faz parte da vida e tudo é aprendizado. Proteja-se do que for possível, aprenda do que for inevitável!

Na hora, as feridas doem, mas depois de um tempo os pontos secam... E o que era uma sutura dolorida, cumpre o seu papel [o fio que (re)une um tecido vivo que foi rompido] e junta tudo, deixando apenas uma sensibilidade diferente, que você até se acostuma e esquece que tem, até alguém notar.

Na hora da crise, analgésicos.
Na hora da festa, maquiagem e salto alto!

Se quiser me amar ou me ter na sua vida, você precisará aceitar também minhas cicatrizes. Elas são parte de mim. Você não precisa amá-las, basta que elas não te assustem e você vai acabar se acostumando e simplesmente perceber que elas são responsáveis por algumas das minhas formas e justificam algumas das minhas atitudes e muito dos meus medos.

Talvez elas apenas te lembrem de ser mais cauteloso, pois, já sofri demais, mas não me neguei a amar. E que, por conhecer bem a dor, não quero te fazer sofrer. E que entre nós haja sutura e não o corte.

"Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu" *


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Texto originalmente postado em Meu Lugar em 30/07/09 

domingo, 27 de março de 2011

A Presença da Ausência

Ahhh... Saudade da gorda mais linda que já existiu...
A minha gorda...
A mais esperta..
Mais inteligente..
E a melhor cachorra do mundo
A minha.

Tão minha que sentia como eu...
Que adoeceu porque me viu adoecer...
E que partiu mas continua em mim...
Me fazendo falta...

Dos dias que ficávamos apenas eu e ela a ouvir musica...
De quando reclamávamos do som alto...
De quando ela me via triste e simplesmente sentava ao meu lado e me pedia carinho como maneira de me fazer carinho... de me fazer ver que pra ela eu era importante...
De quando eu me empolgava demais arrumando as coisas.. ou estudando.. e ela sempre me fazia dar um tempo pra brincar...
De quando simplesmente brincávamos...
De quando tínhamos longas conversas...
De quando ela se deitava do meu colo e sempre encontrava um cantinho...
De quando ela precisava encostar em mim pra dormir..
De quando dormia deitada nos meus pés à minha cama
De quando ela fazia festa a cada vez que eu chegava e abria a porta.. mesmo que só tivesse passado 5 minutos fora de casa...
De quando ela seduzia todo mundo com aquele olhar de “pidona”.. viciada nos benditos “palitinhos”...
Do ciúme que ela tinha de qualquer candidato a ter mais mimos que ela... fosse cachorro, criança ou adulto...
De quando a gente brincava de se esconder...
Das poses que ela fazia assim que via uma maquina fotográfica...
Do medo que ela tinha só de ouvir a palavra “banho”
De quando ela pedia pra “ver a rua”
Ou de quando ela se animava toda quando ouvia um “bora passear?!”

Ela me deu tantos momentos felizes...
Esteve presente em tantos anos de maneira tão intensa...
Mimada em hotéis e viagens...
O vazio que ela deixou não foi preenchido..
Ainda persiste a presença da ausência...

Parece tão contraditório que ao falar de quem me trouxe tanta alegria eu tenha lagrimas nos olhos...
Mas me acho injusta com ela quando me pego desviando os pensamentos das lembranças pra egoistamente não chorar...
Ela merece ser lembrada..
Merece que chore por falar do quão maravilhosa ela era...
Ela merece que eu dedique pelo menos à sua memória as palavras que queriam não ser palavras.. queriam ser carinho e afago no seu pelo branco.. olhando seus grandes e expressivos olhos e orelhas...
Eu queria que ela estivesse aqui comigo...

Eu sempre soube da responsabilidade de ter um cachorrinho...
Ela nos dava muito carinho e amor
Mas ela também precisava de atenção.. carinho e muito amor...
Também podia fazer bagunça e sujeira se a gente não educasse e desse atenção... Como uma criança que não cresce...

Muitas vezes cancelamos viagens pra não deixá-la sozinha...
Mudamos de planos.. e nos estressamos quando ela fazia bagunça, num apartamento que já era pequeno...
Mas... quer saber se me arrependo? Nunca!!!
De nenhum dos dias em que voltei pra casa mesmo durante uma festa com amigos porque estava na hora de lhe dar o seu remédio...
Nem das madrugadas em que acordei e sai desesperada pra levá-la ao veterinário...

E faria tudo de novo se pudesse tê-la de volta e ver a minha gorda...
Aquela que no fim da vida mal conseguia se levantar para nos receber quando chegávamos... mas insistia em balançar o rabinho mesmo com dor...
Que mesmo cansada, continuava atenta a tudo que falávamos e fazia de tudo para estar perto de nós...
E mereceu todo o cuidado do mundo, porque pra mim, ela era a mesma cachorrinha alegre, serelepe e levada, mas que, como eu, sempre pareceu velha demais... séria demais... quieta demais... mesmo sendo a mais carinhosa... e meu eterno bebê.

Agora já faz quatro anos que ela partiu...
Mas o tempo não fez a saudade passar ou eu esquecê-la...
Não fez com que eu deixasse de sentir falta...
Ainda tenho dificuldade de me referir a ela no passado... ainda a amo.
Esse tempo só me faz ter cada vez mais certeza de que ela é inesquecível e insubstituível!
E é preciso que eu fale tudo isso.. que eu escreva.. que eu registre... pra que eu não permita a ninguém esquecê-la...
Nem ninguém possa sequer pensar que por um momento a esqueci.



À minha Bela

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Hoje completam-se quatro anos sem Ela. Saudades, Gorda!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Secret Smile

"Não olha pra mim assim... não sorri desse jeito. Eu sei... Pode ser que ninguém mais saiba, ninguém mais entenda. Mas eu conheço seu sorriso e você sabe disso. Eu sei quando você quer que eu acredite que tá tudo bem, mesmo quando nada está tão bem assim... Não adianta querer fingir ou me enganar, você não vai conseguir. Sabe, eu ando pensando demais ultimamente... Certas coisas ficam repassando na minha mente como um filme. Seu sorriso é uma delas. Eu nem tento explicar a mais ninguém, sei que são coisas que só nós dois sabemos, só nós conseguimos entender esse universo que as palavras não alcançam. Mas, olha, ando preocupado com você. Tenho me sentido tão impotente em te tirar dessa loucura e de tanta coisa que tem te deixado tonta, roubado tuas noites de sono, e por vezes teu sorriso, que você continua a guardar pra mim. Sei que meus braços podem estar parecendo distantes, mas a intensão deles ainda é você. A vontade ainda é te abrigar como se eu pudesse te proteger de todo o resto do mundo, de todos os medos. Eu sei que você não é uma menina indefesa. Eu sei que você nunca esteve procurando um super-herói. Mas quero que você saiba que eu tô aqui, pra você. Talvez seja eu que preciso mais de você do que você de mim. Eu não sei se tenho muito pra te dar, me atrapalho entre linhas mal escritas... Mas, hey, menina, tenho um sorriso pra você."

E no meu mundo, isso bastaria.
“Nobody knows it, but you...”*

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* trecho da música Secret Smile do Semisonic

sábado, 12 de março de 2011

Adeus

Não sei dizer adeus. É muito ruim ter que partir e deixar alguém que você gostaria que continuasse ao seu lado. Despedidas nunca são fáceis. Nunca fui boa com elas. Sempre tentando adiá-las, sempre demorando. Dizem que quem muito se despede não deseja ir. A vontade é mesmo ficar. Não ser passado, não ser só lembrança. Memórias, por mais vivas que sejam, não tem calor, não permitem o toque, não deixam sentir o gosto. Gosto que procuro desesperadamente e não encontro em nada mais. Você ainda sente? Ainda lembra? Ainda é bom? Me dá só mais um minuto, um último beijo, um último abraço, um último sorriso. O que é bom devia ter fim? Se não é bom, porque tanta saudade? Porque esse vazio que nada preenche? E todos os sonhos, os planos e desejos? Como ficam? Sofrem um aborto, um parto prematuro. E partem pra onde? O que não presta não se despede, não precisa de permissão pra partir. Despedidas são uma maneira de tentar adiar o fim de algo que não devia acabar, de evitar ao máximo o ‘adeus’ – essa palavra mágica que faz as coisas subitamente desaparecerem e se debaterem vivas dentro de nós, limitadas por um tempo que não nos bastou...


“Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências. Eu vou gostando, eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando, eu vou… e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem colocar pontos.”
Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Diante do Mar *

Às vezes tudo que eu quero e preciso é descansar.
Não apenas descansar o corpo, dormir, mas descansar a mente! Colocar os pensamentos no lugar. Mas acho que poucos param para pensar nessa necessidade.

No corre-corre dos dias, as pessoas se atropelam em milhões de afazeres. Todo mundo fala que é preciso parar e descansar, mas na escola ninguém nos ensina como fazer isso. Ninguém nos diz quando parar ou o quanto isso é importante, o quanto é fundamental para nossa saúde. O mundo sempre exige mais e mais. Mas tem hora que a gente precisa fugir um pouquinho do mundo, sem necessariamente precisar sair dele. A gente precisa se dar férias!

Férias são pra mudar de ares, passear, descansar.
O primeiro pensamento é ir pra uma praia e sentar diante do mar.


"Quando a gente fica em frente ao mar, a gente se sente melhor" - Nando Reis
[A varanda do vô, em Cabuçu - meu paraíso particular.]

Diante do mar, refletindo o infinito do céu, aquela imensidão azul esverdeada e aparentemente sem fim, me pego refletindo na minha própria vida finita. Olhando pra frente, pro horizonte, penso no futuro, na incerteza do desconhecido. Me pego fazendo planos. Me sinto impotente diante da grandeza do mar. Tão poderoso. Tão grandioso. Tão maltratado.

Olho meus pés fincados na areia e me confronto com o presente: quem sou, onde estou; o que escolhi ser. Admiro o mar: Sempre o mesmo, nunca igual. Sempre mudando, sempre igual. Pode ser ‘previsto’ no ir e vir das suas marés, mas nunca controlado. Não pode ser contido, mas se respeitado, sempre sabe o seu lugar. Grandes ondas... Calmaria...

Olhando pra trás, as pegadas que deixei. O meu passado, onde de tantas formas o mar esteve presente. Aquela mesma praia. Aquele mesmo mar. A criança desastrada que perdeu o biquíni... Que aprendeu a nadar... Que quase chegou a se afogar... Que, dentro de suas águas, se descobriu a amar... Que caminhando pelas pedras que se transformaram em areia planejou um futuro que se transformou em presente e que a faz continuar a pensar. Me pego revivendo esse momentos. Caminhadas.. Pescarias...

Mais um por do sol que ela vê no mar.
O mar me dá medo. O mar leva... O mar traz.
O fim do dia trás uma sensação de fim.
Memória. Vida. Futuro.
Futuro, tão desconhecido quanto seu fim.


Sair hoje pra caminhar na praia foi muito bom. Amo a praia. O mar. O vento. A vista. A imensidão e liberdade. Muita gente bonita. Jovens. Idosos. Casais. Amo observar a vida acontecendo. Os casais namorando apaixonados, intensamente curtindo o momento, caminhando de mãos dadas. Jovens pais desfilando com seus bebes. Felizes. Os que não tinham filhos, mas estavam ali com seus cachorros. Idosos caminhando ainda de braços dados. Desejei um dia poder estar como eles. Com uma historia... Juntos.

Na praia cabe tudo. Cabem todos. Da patricinha ao hippie.
Eu me encontro mais quando vou a praia.

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Ontem eu fui à praia e esses pensamentos não sairam da minha mente. Afinal, esse texto foi escrito nessa varanda que me trás tantos sentimentos e memórias e postado depois de um dia de praia e conversas com a Nega Linda.Eu precisava republicar. [Orignalmente postado em Meu Lugar em 20/05/09]

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Amadurecência


Eu já não choro pra ir pro colégio de manhã cedo. Hoje em dia acordo sozinha e muitas vezes saio sem ninguém nem ver. Hoje já consigo olhar no olho mágico sem subir no banquinho, já aperto o ultimo andar do elevador sem ficar na ponta dos pés, já alcanço as prateleiras mais altas, já sei até abrir lata de leite condensado sozinha! Eu já não sou mais aquela menina que desfilava pela casa quase tropeçando nas roupas e sapatos enormes da mamãe. Hoje já é ela quem anda visitando meu guarda-roupa para pegar algumas peças emprestadas. Eu já ando com meus próprios documentos, já tenho cartão de crédito, já tenho contas pra pagar. Eh... acho que cresci. Mas quer saber?! Acho que aqui dentro eu ainda sou a mesma moleca de sempre, a mesma manhosa de sempre, a mesma tagarela de sempre. É lógico que o tempo passa e a gente muda também, mas é possivel consevar a mesma essência. A vida ensina à gente muita coisa. Tudo é aprendizado! As conquistas, as derrotas, os acertos, os erros, as dificuldades, as decepções... A gente aprende a ser mais seletivo, mais independente, mais responsável, mais maduro – tá, nem todo mundo aprende a ser tudo isso. Mas quando a gente consegue aprender, a gente se sente muito mais pleno, muito mais completo. O segredo é tirar o melhor de cada momento. Viver cada coisa no seu tempo. Não querer pular etapas. Aproveitar cada fase ao máximo e deixar as coisas acontecerem naturalmente. Quando se percebe, já não se tem mais três anos. Já se está com 23.

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Que esse ano seja um ano impar! Afinal, só se tem 23 anos uma vez na vida. ;)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Desesperos Noturnos


Na ânsia de todos os textos que não foram escritos, de todos aqueles que foram esquecidos. Vou dormir pensando em tudo aquilo que eu queria lembrar.  Lembrando de tudo aquilo que eu queria esquecer.  Desabafos noturnos carregam sempre a intensidade de sentimentos incontidos. As palavras simplesmente saem, assanhadas. E as coisas ficam assim, cruas, sem retoque. Porque não adianta forçar a rima ou a inspiração – isso é coisa que simplesmente acontece. Os textos só nascem por vontade própria. As palavras não precisam ser escolhidas ou procuradas – são elas que nos acham. As melhores reflexões, argumentos irrefutáveis, com escolha perfeita de palavras normalmente acontecem quando menos se espera, quando se apaga a luz, devidamente acomodado no travesseiro, longe de qualquer folha de papel. Prometo que vou lembrar na manhã seguinte! Que vou transcrever tudo aquilo que escrevi na minha mente! E tudo se perde após uma noite de sono... Meus melhores poemas nunca chegaram a ser escritos. Acho que tenho inveja de mim, por tudo aquilo que fui capaz de pensar, mas nunca consegui escrever. E eu precisava apenas de um caderno...

"...durmo, certo de que ainda há muitas histórias para serem lidas, para serem escritas, para serem lembradas. Até para serem vividas, quem sabe?"
Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Warm and Peaceful


Não, não me acorda! Eu quero continuar assim, quietinha, quentinha, em teus braços, no teu abraço. Deixa estar teu coração assim, pertinho do meu, batendo num mesmo compasso, sem passo, sem hora, sem pressa. Pelo menos por hoje, eu preciso acreditar que a eternidade nos pertence. Eu não quero acreditar no meu realismo. Eu quero acreditar no teu sorriso. Promete que acredita em mim? Eu quero acreditar que o mal tempo passou, mesmo que lá fora a chuva caia. Tudo bem, o frio é só mais um pretexto pra ficar no teu aconchego, sentindo teu cheiro.  Um arrepio. Diz que foi só minha imaginação aquela discussão que o motivo eu já nem sei. Que foi só um sonho ruim aquele em que você ia embora e não voltava mais. Fica aqui. Cansei de acordar e não te ter por perto.  Não leva embora a minha paz. Sussurra no meu ouvido. Beija-me. Deixa esse gosto de sonho em mim. Deixa eu me ver refletida assim, no fundo dos teus olhos. Deixa eu te sentir assim bem de pertinho. Me deixa dormir.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Desejos


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Eu não preciso dizer mais nada, o Drummond já disse tudo por mim!
Que o ano comece, simples assim.